Otimismo é uma questão de perspectiva. Dependendo do setor, esperar um crescimento de 5% pode ser ótimo ou pouco animador. É dessa segunda forma que os fabricantes de caminhão encaram 2014, depois de um 2013 com um aumento de vendas de quase 12% no geral em relação ao ano anterior. “Esperamos que o mercado cresça perto de 5%, para superar os 158 mil veículos”, projeta Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil. Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, também não se mostra muito entusiasmado, apesar de ser um pouco mais otimista. “Para 2014, a expectativa é de crescimento entre 5% e 10%”, diz Alouche.
Tais previsões têm relação direta com a atual conjuntura econômica do Brasil. Fatores como investimentos em infraestrutura, realização de grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas e a expectativa por novos recordes na produção agrícola poderão movimentar positivamente o mercado. Mas não no ritmo “chinês” de 2013. “Esta conjugação de fatores deve manter o mercado acelerado em 2014", aponta Alouche.
Hugo Zattera, presidente da Agrale, destaca outro fator a ser trabalhado. “A criação de um programa nacional estruturado para renovação da frota poderia criar benefícios para as fabricantes, montadoras e empresas de autopeças”, argumenta Zattera. De acordo com o relatório feito por entidades envolvidas com o transporte rodoviário de cargas, os executivos propõem que o governo repasse R$ 30 mil – valor médio – aos proprietários que entregarem seus caminhões antigos para a reciclagem e também a criação de linhas de crédito para substituir os cerca de 210 mil veículos com mais de 30 anos em circulação atualmente – o que corresponde a 7% do total da frota. Uma proposta que custaria a bagatela de R$ 6,3 bilhões aos cofres públicos. Além da proposta de usar dinheiro público para ajudar fabricantes e empresários, o programa prevê que, com cavalos mecânicos mais novos, índices de emissão de gases e o consumo de diesel sejam reduzidos. “Essa medida promoverá melhorias no aspecto ambiental, com redução no consumo de combustível e dos índices de emissões, além de benefícios em termos de segurança, com a redução de acidentes”, reitera Schiemer, da Mercedes-Benz.
Mesmo com boas perspectivas, alguns executivos ainda mostram o outro lado que pode frear a venda de caminhões. “Com recuperação da agricultura nos Estados Unidos e a normalização do estoque mundial de grãos, a tendência é que os preços recuem. Mesmo ficando num bom patamar, podem fazer com que os clientes segurem um pouco as compras de novos cavalos mecânicos”, explica Alouche. A Scania segue a mesma tendência da marca alemã, mas aponta outro fator as novas taxas anunciadas pelo Governo para o Finame – Programa de Sustentação de Investimentos. “A tendência com o aumento da taxa de juros de 4% para 6% é que o mercado possa ser menor do que o volume de 2013 na faixa acima de 16 toneladas de PBT”, pondera Roberto Leoncini, diretor-geral da Scania do Brasil
Ainda mais difícil para as marcas será repetir o desempenho recorde atingido em 2011, quando mais de 185 mil caminhões foram emplacados no território brasileiro – melhor marca da história do setor. “Não será facilmente repetido, pois os volumes de vendas foram atípicos, em razão do crescimento da atividade econômica e da antecipação de compra em virtude da entrada em vigor das novas leis antipoluição em 2012", enumera Schiemer, da Mercedes-Benz. Em relação a produtos, todos os fabricantes estão cautelosos e mantêm a discrição. Até agora, só a Ford confirmou o retorno dos caminhões F-350 e F-4000 no segmento de semileves e leves, respectivamente.
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z Notícias