O clima de otimismo que contagiava a maior parte das fabricantes de caminhões e ônibus no começo do ano deu lugar a um balanço do primeiro semestre de 2014 pouco entusiasmante. As perdas nas vendas atingem todos os tipos de veículos automotores por aqui. Somando automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas e implementos rodoviários, as perdas no acumulado de janeiro a junho em comparação com o ano anterior já somam 12,45%, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, a Fenabrave. Quando se separam os caminhões dessa conta, a queda é quase a mesma: 12,2 %. Um número bem diferente da projeção de crescimento entre 5% e 10% que era esperada para este ano. Juntos, ônibus e caminhões caíram 11,96%.
A queda nas vendas de caminhões nesse primeiro semestre é explicada por especialistas em função, principalmente, da demora na oficialização do Programa de Sustentação do Investimento do BNDES e da desaceleração da economia brasileira. Como a liberação do PSI só ocorreu no final de janeiro, segundo o presidente executivo da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, quase dois meses de vendas foram perdidos. Este fato retardou a aprovação dos pedidos de financiamento que estavam acumulados desde dezembro de 2013 e prejudicou o início das vendas no inicio de 2014. Além disso, com a economia em baixa, falta carga para ser transportada. “Havia caminhão, financiamento disponível e comprador em potencial, mas não havia frete. E, sem o frete, a compra não se realiza”, explica.
Outro ponto desfavoreceu a comercialização de caminhões no primeiro trimestre deste ano, como aponta João Herrmann, gerente de Marketing do Produto da MAN Latin America. “A troca do Finame simplificado pelo convencional aumentou a morosidade na aprovação das propostas. O BNDES voltou atrás e no começo de abril o Finame simplificado voltou. As vendas entre janeiro e março ficaram prejudicadas”, avalia.
Dentro do segmento de caminhões, o panorama não se alterou significativamente no que diz respeito à participação de mercado. Os modelos leves caíram cerca de 4%, enquanto os pesados e semi-pesados subiram em torno de 2%. Mas a Scania perdeu o título de fabricante do modelo mais vendido entre todas as divisões de peso. Enquanto em 2013 o pesado R440 liderou os emplacamentos entre os caminhões, nesse primeiro semestre quem ostenta essa posição é o semi-pesado VW Constellation 24.280. O primeiro contabilizou 3.192 unidades comercializadas e o segundo já acumula 3.601 exemplares vendidos. Já o VW Delivery 10.160, lançado em 2012, passou a marcar presença na lista dos dez leves mais vendidos já na quinta posição, com 1.551 unidades. O semi-pesado VW Constellation 26.280 e o pesado Mercedes-Benz Atron 2729 também melhoraram suas vendas. O Volkswagen passou de 1065 unidades emplacadas em 2013 para 1852, passando da oitava para a terceira colocação entre os semi-pesados. Mas a evolução do pesado da Mercedes-Benz impressiona mais: foi de 855 exemplares para 2.805, um crescimento de quase 230%.
Diante da queda geral registrada nesses primeiros seis meses de 2014, novas projeções já são traçadas para o fechamento do ano. A perspectiva da Fenabrave é de que o setor de caminhões contabilize 132.332 unidades emplacadas até dezembro – até junho, esse número ficou em 65.296. Se concretizada, essa previsão representará uma diminuição de 15% na comparação com 2013. E será pior que o total de 2012, período comprometido pela implantação da legislação antipoluição Proconve P7 no Brasil, quando ocorreram 137.722 emplacamentos de caminhões. “O mercado de caminhões tem potencial elevado no Brasil. Investimentos em infraestrutura devem trazer mais demanda, assim como o agronegócio, a construção civil e os setores atacadista e varejista”, torce Gilson Mansur, diretor de Vendas e Marketing de Caminhões da Mercedes-Benz.
Já o mercado de ônibus, apesar de também estar marcado pela queda, sofrerá menos. Tudo indica que dezembro termine com 32.065 exemplares vendidos, ou seja, menos 10% que no ano passado. Mas esses resultados – ou qualquer mudança nessas previsões – ainda dependem de políticas de incentivo. Seja para ampliação e troca das frotas ou até mesmo para aquecer a economia e, com isso, gerar mais necessidade dos fretes.
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
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