Falar sobre o futuro dos transportes parece fácil para os executivos da Volvo. Já empenhada em testar e inserir em seus modelos tecnologias ainda pouco – ou nada – comuns nas ruas, a marca sueca se arrisca a prever que daqui a pouco – mais precisamente, em 12 anos – temas como automação, conectividade e eletromobilidade serão corriqueiros. Pelo menos foi isso que o vice-presidente global da Volvo Trucks, Lars Terling, deixou claro ao participar do Seminário “Tendências Futuras e Inovação”, promovido pela fabricante em Itajaí, no estado de Santa Catarina, durante a parada no Brasil da Volvo Ocean Race – regata de volta ao mundo patrocinada pela marca.
E é bom mesmo que Lars esteja certo. A expectativa é que existam mais de oito bilhões de pessoas no planeta em 2020, a maioria delas vivendo em áreas urbanas. Se nada mudar substancialmente até lá, de acordo com essas projeções, acidentes viários podem se tornar uma ameaça cada vez maior – até ganhar a quinta posição no ranking de causas de mortes no planeta, sendo que no ano passado, de acordo com relatório da Organização Mundial de Saúde, era a décima. “Temos o mesmo sistema de transportes há pelo menos uns 50 anos ou até mais. Mas isso vai mudar: em 10 anos já teremos transformações bem mais impactantes do que as que chegaram nas últimas cinco décadas”, avalia Lars, sempre muito otimista.
A automação é uma condição fundamental para esse período. Lars defende que os motoristas ainda serão peças importantes do sistema de transporte mesmo diante de modelos que se locomovem sozinhos. Porém, desempenharão uma função distinta da que exercem hoje. “Eles contarão com uma série de instrumentos conectados que mudarão completamente a rotina de trabalho. Serão gestores necessários e preparados para lidar com as novas tecnologias”, adianta.
Para a Volvo, os veículos autônomos serão gradativamente introduzidos nas aplicações mais específicas, em áreas confinadas e sem trânsito regular. Essas são operações de transporte muito repetitivas, em que a produtividade dos motoristas é constantemente desafiada pela rotina extenuante. A marca já tem unidades atuando em operações reais desse tipo, como em uma mineração subterrânea em Boliden, na Suécia, e na colheita de cana-de-açúcar em Maringá, no Paraná, no Sul do Brasil.
Para isso, os veículos recebem sensores e radares que detectam pedestres e outros obstáculos, analisam o exterior em um ângulo de 360° e que alertam o motorista a respeito de qualquer contratempo e são também capazes de frear. Em relação à conectividade, também já há alguns sistemas que permitem fazer a gestão de frotas – desde o rastreamento via satélite até sofisticados sistemas capazes de interagir remotamente com os veículos, atuando até sobre sua aceleração. Mas há uma expectativa de ter um sistema de tráfego inteiramente conectado no futuro, para informações sobre trânsito, por exemplo. Um cenário que depende de muita verba pública, mas que, segundo Lars, também deve receber mais investimentos privados daqui para frente.
Na Europa, foi apresentado recentemente pela fabricante um caminhão elétrico para entregas urbanas projetado especialmente com foco em operações noturnas. O FL Electric se destaca pelo silêncio de sua operação e a boa autonomia de até 300 km com uma única recarga. As vendas no continente Europeu estão previstas já para o próximo ano. “Não há barulho, o que faz com que seja possível atuar também à noite. Além disso, nessa faixa alternativa de horário economizaremos bastante tempo por fugir das situações de trânsito intenso”, defende Lars. Porém, a Volvo defende que todas essas constatações e previsões não significam um final trágico para motores movidos com diesel. Para Lars, eles continuarão em franco desenvolvimento, só que cada vez menos poluentes e mais econômicos. E permanecerão ainda por muitos anos representando uma parcela importante do trem-de-força dos caminhões, ônibus e equipamentos de construção. “A eletrificação no transporte comercial correrá inicialmente na área de distribuição. Para longas distâncias, as soluções híbridas ainda são as mais indicadas”, frisa o vice-presidente global da Volvo Trucks.
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Divulgação