O setor de caminhões passou por grandes transformações nos últimos anos. A preocupação com o consumo de combustível e nível de emissões dos veículos pesados ficou evidenciado com a adoção do Proconve P7 no Brasil em 2012, correspondente ao Euro 5. A União Europeia, por sua vez, se prepara para adotar o padrão Euro 6, bem mais rígido, que será obrigatório por lá em 2014 e que aqui ainda não tem data certa para chegar – a previsão é que seja em 2016. Nesse intervalo, uma nova tecnologia pode surgir no mercado brasileiro, com a promessa de reduzir o consumo de diesel e as emissões de poluentes em trajetos de longa distância. A Volvo apresentou o primeiro caminhão movido a diesel e a Gás Natural Liquefeito. O sistema que combina os dois combustíveis passou a ser introduzido em modelos na Europa no segundo semestre do ano passado e ainda não tem previsão para ser comercializado no Brasil.
O grande apelo do sistema é a redução do consumo de diesel, já que o GNL substitui 62% do uso do combustível fóssil. Os primeiros testes da Volvo indicam que ele reduz ainda em cerca de 28% a produção de CO2, além baixar a emissão de compostos de enxofre, nitrogênio e particulados. O modelo mostrado no Brasil é um FM 460 6X4, importado da Suécia, com motor 13 litros de 460 cv de potência e 234,5 kgfm de torque. A tecnologia do propulsor é baseada no motor diesel convencional equipado com injetores para gás, um tanque criogênico com um isolamento térmico que mantém o gás liquefeito e resfriado a -135ºC e um conversor catalítico. O projeto é uma parceria com a GásLocal – joint-venture formada por White Martins e Petrobras. A empresa é responsável pela liquefação do gás por meio de um processo de resfriamento a 162ºC negativos. “Até 2020, esperamos que o GNL responda de 15% a 20% no uso de combustíveis”, aposta Sérgio Gomes, diretor de estratégia de caminhões do Grupo Volvo América Latina.
Por aqui, o caminhão está em fase de testes desde fevereiro – rodando com uma licença especial, já que o sistema não é reconhecido nas regras do Proconve P7 – e já totalizou mais de 50 mil km percorridos. “Os primeiros caminhões movidos a GNL fabricados pela Volvo já estão circulando com sucesso na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, os resultados iniciais são animadores e temos potencial para viabilizar a comercialização de caminhões GNL num futuro próximo”, declara Gomes. A Volvo não quer antecipar informações sobre venda ou preço do novo caminhão. A tendência, porém, é que os novos modelos sejam mais caros, já que trazem uma série de componentes novos. Mas como o GNL é mais barato que o diesel, o sistema deve reduzir sensivelmente os custos na operação.
Equipado com um tanque de diesel para 330 litros e outro de GNL para 290 litros, o caminhão alcança a autonomia de 900 km – 600 deles só com GNL. Apesar de ser um “flex”, o FM 460 GNL necessita do diesel para rodar. Os dois combustíveis se combinam na câmara de combustão e é o diesel que atua no momento da ignição por compressão, enquanto o GNL garante o restante da potência após a combustão inicial. Nos testes realizados pela Volvo, o pesado circulou 580 quilômetros com 27 toneladas de carga e consumiu apenas 90 litros de diesel – juntamente com os 290 litros de GNL. Em um trajeto só usando diesel, o consumo seria de 222 litros.
Outra vantagem é que o gás em estado liquefeito permite armazenar mais combustível nos tanques em comparação com o combustível comprimido, já que o volume é 600 vezes menor. Isto proporciona ao caminhão GNL uma autonomia muito maior do que a dos caminhões tradicionais movidos a gás que recorrem a ignição por velas. Segundo a Volvo, a tecnologia diesel-GNL oferece o mesmo nível de confiabilidade operacional aos caminhões que o motor diesel “normal”. A dirigibilidade também é similar. E, caso o gás acabe, o sistema automaticamente passa para o diesel. O motorista é então alertado por uma luz que acende no painel de instrumentos.
A infra-estrutura necessária para receber os caminhões diesel-GNL é outro ponto que precisa ser solucionado antes da implantação do sistema. A planta da White Martins em Paulínia tem capacidade de produzir 380 mil m³ do gás por dia. O composto já é distribuído pela empresa para uso industrial. Gilney Bastos, executivo da White Martins, afirma que o processo de implantação do GNL nos postos é extremamente fácil. “Sempre que existe gás natural comprimido em um posto, há também um tanque de GNL para gerar essa compressão. Basta fazer uma pequena adaptação para abastecer os veículos”, garante. Atualmente na Europa já existem 38 estações de abastecimento GNL, com projetos de chegar a 181 a curto prazo.
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Raphael Panaro/Carta Z Notícias