A busca cada vez mais intensa de redução de emissão de poluentes fez as fabricantes automotivas darem atenção especial aos materiais que garantem menor peso – e, consequentemente, consumo de combustível mais baixo. Um dos ingredientes mais requisitados nessa “dieta” é o alumínio, que oferece peso 50% menor que o aço, por exemplo. No Brasil, entre os veículos de carga, essa movimentação também existe, mas ainda não ganhou tanta força como em países da Europa, no Japão ou Estados Unidos. “Estamos uns 10 anos atrasados, por uma questão de custo. Não havia na indústria brasileira uma pressão intensa para estabelecer melhor eficiência energética. Aqui, não era prioridade, mas isso está mudando”, avalia Ayrton Filleti, diretor técnico da Associação Brasileira do Alumínio, a Abal.
Nos caminhões e ônibus, um dos grandes rivais da utilização de alumínio no trem de força é o diesel, combustível que move a maioria das unidades à venda no Brasil. Mesmo assim, já existem componentes feitos com o metal leve. Como pistões, coletores e até câmaras de combustão. Mas os próprios níveis exigidos pelo Euro 5 influenciaram, negativamente, nessa utilização. “Algumas fabricantes passaram a adotar a recirculação de gases. Ou seja, temos a temperatura elevada em um combustível que leva enxofre e um ambiente de grande umidade. Isso cria o ácido sulfúrico e o alumínio é atacado”, explica Leandro Siqueira, diretor de Engenharia da MAN Latin America. Mas a fabricante alemã deu um jeito de resolver a questão. “Desenvolvemos uma tecnologia que permite a proteção do alumínio e impede a corrosão, a partir de uma pintura especial”, conta Leandro.
No ramo de transportes de cargas e passageiros, o ganho de peso e a eficiência energética podem ser favorecidos de acordo com os materiais utilizados na carroceria dos ônibus ou nos implementos dos caminhões. A Noma, por exemplo, apresentou em novembro último dois implementos voltados para o transporte de carga nessa linha. O primeiro, um rodotrem basculante de 41 m³, usa, além do alumínio, tecnologia de suspensão pneumática que dá maior rendimento quilométrico de carga útil e amplia em até três toneladas a capacidade de carga em comparação a outros do mesmo porte.
Já o segundo, um bitrenzão de seis eixos, é voltado para o transporte de cimento, cal, talco industrial, cinzas e outros materiais que usem sistema de descarga por pressurização e sua caixa é 100% em alumínio. A promessa é de cinco toneladas extras de carga. “Além de investirmos em pesquisas internas, desenvolvemos parcerias para nos posicionarmos à frente no que tange o uso de matérias-primas leves, ultra-resistentes e ecologicamente corretas. Queremos demonstrar, com dados reais, que nossos produtos trazem economia e maior ganho aos transportadores”, garante Marcelo Noma, diretor-superintendente da Noma.
A preocupação com o custo/benefício, de fato, é um dos principais fatores na escolha dos materiais utilizados em carrocerias e implementos rodoviários. Mas, segundo Ayrton Filleti, da Abal, apesar do custo maior, a economia com o combustível e a possibilidade de ampliar a capacidade de carga faz com que a diferença seja paga em cerca de dois anos. “Um implemento graneleiro com 14 metros, por exemplo, custa em média R$ 61 mil e construído em aço. Já em alumínio, é por volta de R$ 85 mil”, exemplifica, mostrando que essa diferença pode chegar a cerca de 40%. Além disso, as vantagens ao se optar pelo alumínio não param na economia e ganho de carga. Para Sandro Adolfo Trentin, diretor de Tecnologia e Inovação da Randon S.A., que também trabalha com implementos rodoviários, o pós-venda compensa. “O implemento em alumínio tem maior valor de revenda e maior resistência à corrosão. Sua vida útil é maior, principalmente nas regiões litorâneas, permitindo maior disponibilidade da frota e menor gasto com manutenção”, enumera. E isso também se nota entre as empresas responsáveis por encarroçar ônibus. “Hoje, cerca de 25% de toda a carroceria é em alumínio. Os pisos, por exemplos, substituíram os de madeira, que apodreciam demais”, confirma Adelir Boschetti, diretor de Engenharia da Neobus.
Até onde menos se espera, a utilização do alumínio pode ser de grande importância. Uma roda de liga leve, por exemplo, pode ser em média de 15 kg a 20 kg mais leve que as de aço, dependendo do tamanho. A diferença parece pequena, mas Leandro Siqueira, da MAN Latin America, explica que é um diferencial para frotistas que atuam em determinados segmentos. “Temos a legislação da balança. Para cargas que deixam o peso no limite ou que prejudiquem a distribuição de peso por eixo, a roda ajuda. Temos clientes que pedem, como os que transportam bebidas”, explica. Segundo Leandro, em um MAN Constellation 24.280 6X2, isso significa 220 kg a menos. Já para um bitrenzão com nove eixos, a redução pode chegar a 700 kg.
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Divulgação