Quando se fala em caminhões extrapesados, normalmente se espera encontrar muito conforto e toda a tecnologia embarcada típica dos grandes modelos rodoviários “top de linha”. Ou seja, veículos preparados para longas jornadas de dias e dias nas estradas. Mas há segmentos, como o dos caminhões com aplicações off-road, em que essa carga de modernidade fica praticamente restrita ao trem de força. O G480 6X4 da Scania é um exemplo disso. O cavalo-mecânico é puxado por um potente motor de 480 cv, aliado a um moderno câmbio automatizado, e traz um conjunto suspensivo extremamente reforçado. Mas oferece na cabine apenas o trivial para algumas horas de trabalho duro, em terrenos adversos e com cargas pesadas. Na medida certa para a proposta do modelo.
O habitáculo do G480 tem mais foco na dirigibilidade do que no conforto. Tanto que, dos itens de conveniência, só a coluna de direção ajustável é de série. Equipamentos como ar condicionado e vidros elétricos são opcionais. O banco do motorista oferece amortecimento, mas sem a possibilidade de regulagem. A cabine também traz, de série, rádio com MP3 sem controle no volante. O exterior é equipado com faróis auxiliares de neblina e chuva, que incorporam proteção reforçada e limpadores por compressão a jato.
O maior destaque do G480 está mesmo na parte mecânica. O motor de 13 litros é adequado às normas de emissão do Proconve P7 e tem como principal atrativo o alto torque em baixa. Entrega impressionantes 244,7 kgfm entre mil e 1.350 rpm. Todo esse torque, aliado à potência de 480 cv, dá ao caminhão a capacidade máxima de tração de 150 toneladas. A transmissão é uma automatizada de 14 velocidades – 12 “normais” e duas superlentas –, chamada pela Scania de Opticruise. Apesar de automatizado, o dispositivo conta com um pedal de embreagem para as aplicações off-road que, quando acionado, mantém a marcha engatada por mais tempo para evitar interrupções na entrega de tração. O sistema permite que o motor gire em uma faixa de giros mais ampla.
O chassi também foi elevado em relação a outros modelos pesados da Scania. Com isso, o cavalo-mecânico ganha um ângulo de ataque de 25 graus – o convencional da categoria é 18 graus. Segundo a fabricante, isso permite o uso do modelo em situações extremas, como entrar em rios, valas ou trafegar por subidas ou descidas mais íngremes.
A linha off-road tem diversas aplicações possíveis. No caso do G480, o uso pode ser feito na colheita de cana-de-açúcar, mineração, construção e madeira. Em 2012, a o modelo teve 38 emplacamentos no acumulado de janeiro a dezembro. Com a intensificação das obras de infraestrutura no Brasil, embaladas por eventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, a demanda aumentou. Só no primeiro semestre deste ano, o G480 já contabiliza 65 unidades vendidas.
Primeiras impressões - Onde os fracos não têm vez
São Bernardo do Campo/SP - Como todo veículo produzido pela Scania, o G480 ostenta a logomarca com a cabeça coroada de um “griffin” – um monstro mitológico que tinha um corpo de leão e cabeça e asas de uma águia. Como o leão é considerado o rei dos animais e a águia seria o rei dos pássaros, o “griffin” foi imaginado para ser uma espécie de “rei das criaturas”. E o G480 é um dos modelos que melhor expressa a autoimagem da centenária marca sueca.
Indicados para utilização no fora-de-estrada, os modelos da série G têm a mesma cabine avançada alta – são 3,26 metros de altura – que os rodoviários da série R, mas com acabamento menos sofisticado. Como a suspensão também é bastante elevada, subir os quatro degraus que levam à cabine totalmente em aço do G480 requer algum “alpinismo”. Lá do alto, a sensação é que o mundo em volta fica pequeno.
Sem carga alguma, apenas o cavalo-mecânico com o tanque cheio e motorista, o G480 beira as 10 toneladas. Mas toda a sensação de peso desaparece quando é dada a partida. O motorzão diesel de 6 cilindros em linha com 13 litros, robustos 480 cavalos de potência e incríveis 244,7 kgfm de torque logo exibe seu ronco imponente, que se espalha pelo campo de provas da Scania, na cidade paulista de São Bernardo do Campo. No caso do G480, que é um extrapesado com vocação off-road e preparado para grandes cargas, a presença do câmbio automatizado Opticruiser de 14 velocidades – sendo duas superlentas – não eliminou o pedal de embreagem. Ele é usado na hora de sair da inércia e para engatar a primeira marcha, para evitar que ocorra qualquer perda de tração – algo que seria fatal nesse tipo de aplicação.
Com o caminhão já em movimento, o sistema automatizado de trocas de marchas dá conta do recado. Elas são mudadas com precisão e permitem que o motor disponibilize sempre o torque e a potência necessários, de acordo com a demanda. Aliado ao sistema hidráulico de freio auxiliar Retarder, que é opcional no G480, o Opticruiser permite maior eficiência em baixas velocidades. O que ajuda bastante na hora de subir ou descer uma pirambeira em dia chuvoso com uma carreta carregada de granito – condição em que o conjunto pode atingir até 74 tonedas de PBTC.
Como se espera de um caminhão pesado, o torque máximo está disponível já em giros baixos, a partir das mil rpm. Acelerar um veículo desses gera uma demonstração de força impossível de encontrar em qualquer automóvel. Mas nada de sapatear bruscamente no acelerador ou no freio. Apesar de bruto, o G gosta de ser tratado com carinho. Projetado para parar veículos com cargas absurdamente pesadas em terrenos inóspitos, o freio naturalmente é um tanto hiperassistido – se pisar forte, ele breca com tudo, de forma quase instantânea. Entretanto, quando tratado com a devida docilidade, o G480 reage de forma bem amistosa aos comandos. A manobrabilidade é até surpreendente para um veículo de tal porte. Em pouco tempo, dá para fazer as curvas com segurança. O que é bastante tranquilizador. Afinal, esbarrar em algo com um brutamontes desse porte certamente causaria danos severos.
Autores: Michael Figueredo e Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press) Fotos: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias