A indústria de veículos comerciais surgiu bem cedo no Brasil. Já em 1919 a Ford montava alguns modelos em São Bernardo do Campo, seguida em 1925 pela General Motors. Mas foi só depois da forte industrialização brasileira nas décadas seguintes que o setor foi alavancado. Foi exatamente quando o país já tinha um parque industrial mais bem estruturado que a alemã Mercedes-Benz chegou aqui, em 1956. Só que mesmo com esse pequeno atraso, a fabricante europeia entendeu bem o mercado nacional. Depois de 57 anos de atuação no Brasil, a Mercedes comemora agora a marca de 2 milhões de veículos comerciais produzidos no Brasil, um recorde no setor e na América Latina.

Caminhões da Mercedes-Benz

Destes, cerca de 1.370 milhão foram de caminhões e o restante, 630 mil, de ônibus. O modelo de número 2 milhões a sair das linhas de montagem, aliás, da Mercedes foi um Actros 4844 K 8X4. Se trata de um extrapesado especializado para aplicações fora-de-estrada, como mineração e construção pesada.

Com a inauguração da fábrica de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a Mercedes se aproveitou do forte processo de industrialização idealizado pelo presidente Juscelino Kubitschek – presente inclusive na abertura da indústria paulista. O primeiro caminhão feito por aqui foi o L312, apelidado de Torpedo, com carga útil de 5 a 6 toneladas. O primeiro chassi de ônibus surgiu só no ano seguinte, o OM-312, com capacidade de levar mais de 30 passageiros e aplicação urbana. Em 1958 veio o O321H, um chassi com motor traseiro que ficou famoso pela suavidade e qualidade de construção. No mesmo ano, a Mercedes lançou a sua linha de caminhões médios por aqui, com o LP321. Que logo recebeu variantes off-road.

Fábrica da Mercedes-Benz

Os anos 1960 continuaram com renovações e adições nas linhas de veículos comerciais da marca. Uma das maiores inovações, entretanto, foi o lançamento do motor OM352, com injeção direta de diesel, uma tecnologia avançada para a época. A sua aplicação no Brasil teve grande sucesso. A partir de 1970, o propulsor equipou o médio L1113, que hoje é o caminhão mais produzido e vendido da história do Brasil, com mais de 200 mil unidades. A mesma família de motores permitiu ainda a entrada da Mercedes entre os semipesados e os pesados em 1970 e 1975, respectivamente.

Na década de 1980, as maiores novidades foram a chegada dos novos caminhões pesados e a renovação total da linha de leves. Os anos 1990 marcaram o início das vendas de modelos com maior aparato tecnológico. Caso de ar-condicionado, freios ABS e EBD, todos presentes no extrapesado LS1935, por exemplo. Em 1991, os médios da Mercedes passaram a ter cabine avançada – e não mais a tradicional bicuda – e ampliaram o espaço para cargas. Entre os ônibus, destaque para a nova linha de veículos rodoviários O400.

Caminhão 1111 da Mercedes-Benz

Em 1997 a fabricante alemã entrou em uma nova fatia de mercado com a importação da Argentina do furgão Sprinter, dedicado a serviços urbanos e rodoviários de curta distância. Os anos 2000 marcaram ainda a entrada da marca no segmento de caminhões para longas distâncias com o extrapesado de teto alto e também a introdução das atuais famílias e nomenclaturas, como Accelo, Actros, Axor e etc. Outra mudança importante aconteceu na virada de 2011 para 2012 com a adoção dos veículos Euro 5, com motores mais modernos e eficientes.

Novo modelo Actros da Mercedes-Benz

Atualmente, a Mercedes conta com três unidades industriais no Brasil. A maior é a de São Bernardo do Campo. Hoje, a fábrica paulista é a maior fábrica de veículos comerciais da empresa fora da Alemanha. E é a única do mundo a produzir em uma mesma planta caminhões, chassis de ônibus, eixos, câmbios e até cabines. Há também uma unidade em Campinas que abriga a central de distribuição de peças e áreas de treinamento de profissionais e clientes, mas que já foi uma antiga encarroçadora de ônibus da própria Mercedes.

Entretanto, o grande destaque atual da operação da Mercedes no Brasil é a fábrica de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Inaugurada em 1999 para produzir automóveis – Classe A e depois o CLC –, a indústria foi praticamente reconstruída em 2012 para passar a fazer caminhões. Lá são feitos os Actros e Accelo em processos de produção modernos, com linhas de montagem através de carros autônomos em vez dos tradicionais trilhos. O parque de fornecedores também é integrado à fábrica e agiliza a entrega de componentes.

Comemoração de 2 milhões veículos comerciais vendidos pela Mercedes-Benz

A atualização da unidade de Juiz de Fora, aliás, faz parte de um plano de investimentos de R$ 1,5 bilhão para o quadriênio 2010-2013, um dos maiores aportes em curso no setor de veículos comerciais. Além da reestruturação da indústria mineira, o investimento passou pela renovação da frota por causa da entrada do Proconve P7, aumento da capacidade produtiva de São Bernardo do Campo e novas linhas de montagem de motores e tecnologias.

Em termos de mercado, a Mercedes não passa por sua melhor fase. Durante muito tempo, a empresa alemã deteve 60% das vendas de veículos comerciais por aqui. Há quatro anos, no entanto, perdeu a liderança no ranking de caminhões para a MAN Latin America. Em compensação, ainda acumula ótimos números entre os ônibus, com mais de 50% do mercado nacional.

Linha de produção da Mercedes-Benz


Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Divulgação