A expectativa da maioria das fabricantes de caminhões no final de 2014 era que 2015 tivesse emplacamentos semelhantes aos do ano passado. Mas o que se vê no balanço do primeiro semestre é um verdadeiro desastre para a indústria de veículos de carga. Enquanto a queda geral registrada no setor automotivo nacional foi de 17,6%, entre os caminhões os números são bem piores: a retração no acumulado entre janeiro e junho, em comparação com o mesmo período de 2014, chega a 42,1%, de acordo com dados da Fenabrave. E, pelo menos para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, Alarico Assumpção Jr., o segundo semestre não mudará esse cenário. A não ser que a economia brasileira consiga melhorar. “Há caminhões disponíveis, financiamentos com taxas deflacionadas e clientes. Mas falta carga. Só vendemos caminhões quando temos bom PIB”, justifica.

Ford Cargo

Muitos são os fatores apontados para esse resultado. O principal deles, sem dúvida, se resume à crise que o país enfrenta. “A confiança segue em baixa, o fluxo de caminhões nas rodovias caiu e a produção e a venda de automóveis também”, enumera Ricardo Alouche, vice-presidente de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da MAN Latin America. Para João Pimentel, diretor da Ford Caminhões, não há qualquer possibilidade de melhora na indústria automotiva antes que o Brasil, de maneira geral, se recupere. “A retomada mais gradual da produção dependerá do sucesso da atual política econômica”, avalia.

Mesmo assim, os executivos das marcas que atuam no Brasil tentam encontrar motivos para otimismo diante da dificuldade. A Mercedes-Benz, por exemplo, se consola com a liderança nas vendas em três dos seis primeiros meses do ano e ser a segunda marca no ranking do acumulado entre janeiro e junho, com 25,6% de participação – a primeira é a Volkswagen, com 1% a mais. E traça alternativas para diminuir os prejuízos nesse período. “Além do Banco Mercedes-Benz oferecer produtos financeiros mais atraentes, aumentamos as opções de serviços ao cliente, como a marca de peças Alliance, a nova geração do sistema de gestão de frotas FleetBoard e as negociações envolvendo a nossa área de seminovos SelecTrucks”, sinaliza Gilson Mansur, diretor de Marketing Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil. Quem também vê um lado bom é a Ford. Apesar de sofrer, como todas as outras fabricantes, com a queda nas vendas, está bem posicionada em algumas linhas de produtos. Especialmente com os lançamentos no segmento de leves dos Cargo de 8 e 11 toneladas, além dos modelos da Série F. “Ganhamos 4,5 % de participação comparado com o mesmo período de 2014”, aponta João Pimentel.

Volkswagen Constellation

De fato, dentro do segmento de caminhões, o panorama se alterou no que diz respeito à participação de mercado. Os modelos leves passaram dos 18,2% de participação no primeiro semestre de 2014 para 26,9% e os semi-leves, de 2,8% para 5,2%. Enquanto isso, os semi-pesados desceram dos 33,6% para 32,6% e os pesados – os que sofrem mais no atual momento – desceram dos 37,9% para 26,1%. Já os médios passaram de 7,5% para 9,1%. “Hoje há um limitador nas grandes metrópoles de horário de entrada e saída de veículos mais pesados ou até a não utilização deles em perímetro urbano. Aí, entram os leves tanto para coleta quanto para distribuição de mercadorias”, explica Alarico, da Fenabrave.

A Volkswagen se mantém como a fabricante do modelo mais vendido entre todas as divisões. A posição é ocupada pelo semi-pesado VW Constellation 24.280, que somou 2.358 unidades entre janeiro e junho deste ano. E o segundo lugar também é da marca: o leve VW 8.160, com 2.115 emplacamentos no mesmo período. Nos semi-leves, o grande destaque é o Ford F-350, com 851 exemplares. A marca americana também se deu melhor entre os médios, com o Ford Cargo 1119 e seus 1.025 emplacamentos. Já na categoria de pesados, Volvo, Scania e Mercedes-Benz reinam absolutas. A Volvo se deu melhor com o seu FH 460, com 1.066 unidades vendidas. Já a Scania comercializou 899 exemplares do R440. Na Mercedes-Benz, o mais vendido entre os pesados foi o Atron 2729, com 583 emplacamentos. No geral, o maior volume de vendas da marca alemã fica com o leve Accelo 815, com 1.563 exemplares comercializados.

Scania R440

Para amenizar os prejuízos, muitas ações estão sendo executadas pelas marcas que fabricam caminhões no Brasil. A principal delas é diminuir o ritmo de produção e, assim, evitar que os pátios fiquem cada vez mais lotados de estoque. “Estamos em operação apenas metade do mês para atender à demanda”, explica João Pimentel, da Ford. A atitude é defendida ainda por Ricardo Alouche, da MAN, que considera isso uma questão de maturidade diante do mercado atual. “Reduzir o ritmo de atividade da empresa não é sinal de má gestão, mas sim de prudência”, enfatiza.

Para o resto do ano, as previsões seguem praticamente o mesmo ritmo do primeiro semestre. “Não acreditamos que piore mais. Para nós, o fundo do poço já chegou”, torce Alarico, da Fenabrave. Mas a Ford é mais otimista. Enquanto a expectativa geral é de que 2015 se encerre com cerca de 77 mil unidades de caminhões vendidas, a marca americana acredita que esse número possa ser maior. “Acreditamos que vamos recuperar mercado aos poucos no final do ano. Mantemos uma projeção da indústria em torno de 80 a 90 mil caminhões até dezembro”, profetiza João Pimentel.

Mercedes-Benz Atron


Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Divulgação